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     130 ANOS DAS COMPOTAS DE PÊSSEGO DE AMADEU GASTAL
     15/08/2008
     Leandro Ramos Betemps

     Quando esteve em Pelotas em 1820, o naturalista francês Saint-Hilaire escreveu alguns indícios sobre nossa fruticultura, pois ao visitar o pomar da propriedade de Gonçalves Chaves, viu diversas árvores frutíferas. Embora as frutas fossem escassas e só para consumo familiar, Saint-Hilaire menciona a grande ocorrência de uma fruta: o pêssego. Na fronteira com a Argentina, chega a dizer que o padre local a oferece aos pobres ao invés de pão. Após um banquete em Rio Grande, comenta terem servido um “buffet” de doces, porém não fala de doces de frutas, apenas do consumo destas “in natura”. A seguir transcreve informações colhidas com Gonçalves Chaves, sobre importações de laranjas, açúcar refinado e bruto, doces e chocolates, além de marmelada. As frutas frescas eram escassas na época, pois após 60 anos, elas ainda eram importadas de Montevidéu.
     Foi com a Colonização estrangeira que se pretendeu mudar esse panorama. O loteamento de terras para estrangeiros objetivou aumentar o número de produtos agrícolas no mercado, visto que toda a produção econômica pelotense estava voltada para as charqueadas. A Câmara Municipal deu início à colonização, mas foi pela iniciativa privada, com a criação da Associação Colonizadora, que alcançou êxito. Os colonos estrangeiros começam a produzir frutas e outros produtos agrícolas tornando mais fácil encontrar essa matéria-prima para fazer doces. A fruticultura se implanta em Pelotas.
     Em 1867 o dentista francês Amadeu Gustavo Gastal voltou à França e de lá trouxe máquinas, instrumentos, mudas de plantas, sementes e receitas para licores, vinhos, conservas e compotas de frutas e legumes. Seu plano era investir na fruticultura e sua industrialização. Por seus trabalhos como agrimensor, ele conhecia muito bem as terras da região e comprou terras no local chamado Passo do Pilão, em 1874. Ali organizou a sua “Bruyères”, um estabelecimento que recebeu muita dedicação. Neste local, no ano de 1878, fez a primeira compota de pêssego de Pelotas. Esse ato foi o embrião de uma especialidade pelotense.

     No Ano de 1880 foi criada a Colônia Francesa de Santo Antônio, em local próximo as terras do Gastal. A maioria daqueles franceses vinha da região da “Provence”, local com tradição em fruticultura. A cidade francesa de Apt é conhecida há séculos por seus doces cristalizados, compotas e conservas de frutas em calda. Com esta experiência ancestral, o clima propício e o êxito das compotas de Gastal, os franceses plantaram pessegueiros e substituíram as conservas provençais de peras e maçãs por conservas de pêssego em calda.
     Os colonos de Santo Antônio buscavam um produto para mercado, tentaram primeiro a alfafa, depois o vinho e por fim dedicaram-se a fruticultura e a fabricação do que chamamos de compotas. Os franceses chamam “compote” todo tipo de doce de frutas cozidas diretamente com calda de açúcar. Se a fruta é cozida antes e depois acrescida de banhos sucessivos de calda chamam de “confiture”, a exceção do doce de frutas cítricas a que chamam de “marmelade”. Se a “compote”, “confiture” ou “marmelade” for cozida até tornar-se sólida chamam de “pâte de fruits” e torna-se o que conhecemos por pessegada, goiabada ou marmelada.

      Já o que conhecemos por compota, eles chamam apenas de “fruits au sirop”, ou seja, frutas em calda, por exemplo “pêche au sirop”, ou seja, pêssego em calda.
     Já as frutas cristalizadas chamam de “fruits confits”, ou seja, frutos confeitados, pois nem sempre são cristalizados. A cristalização das frutas confeitadas, embora também já conhecida na França, tornou-se mais freqüente entre os franceses daqui. Pois devido ao clima úmido de nossa região, os frutos com o tempo melavam e quando cristalizados se conservam melhor. Assim surgiram os nossos cristalizados.
     Quando os franceses começaram a criar suas fábricas artesanais a partir de 1899 a dedicação ao vinho foi quase exclusiva. Os doces de frutas eram apenas para consumo da casa e feitos pelas mulheres. Os homens produziam o vinho nas fábricas. Só com a derrocada da vinicultura na década de 1930 é que aos poucos a fruticultura ganha cada vez mais força e se expande para as outras colônias de Pelotas. A partir da década de 1950 os agricultores fecham suas fábricas e passam a ser apenas fornecedores de matéria-prima para as agroindústrias do Distrito Industrial.
     Ao Amadeu Gastal e aos outros franceses agradecemos esta deliciosa contribuição econômica e cultural para o município.

 

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