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A visão que tenho de minha cidade, é a de um espaço que se vai sistematicamente abrindo.
Conheci-a – há pouco mais de meio século – como um retângulo perfeito. Seu contorno fazia-se pela Barroso, Benjamin, Rua da Luz e Santos Dumont (na época, Marquês de Caxias). Fora destes limites, na linguagem de então, encontrava-se o arrabalde.
Minha vida circunscrevia-se a poucos lugares, todos muito bem referenciados, a partir da Praça Coronel Pedro Osório e do Mercado. Mover-me por este espaço, fora dos passeios rotineiros, envolvia prévia programação (as distâncias não permitiam o improviso!).
Arrisco a dizer – sem qualquer pretensão metafísica – apenas como uma constatação físico-espacial – que crescer pode não ser mais do que virmos a ter como perto o que nos pareceu, a um tempo, distante.
Em minha juventude, desdobrei-me em conhecer todos os seus recantos, em longas caminhadas que fazíamos – eu e meus amigos – penetrando em lugares hoje tidos como perigosos.
Neste tempo, a referência de todas as distâncias (e com todos os significados que daí decorram) passou a ser o Café Aquário. Dele partíamos e para ele retornávamos.
A cidade (e minha vida) abria-se. Conquistava novos espaços, povoava-se de novas pessoas, assumia novos traçados.
Destruía, também! Eliminava paisagens a que minha vista se afeiçoara, obrigando-me a buscar novas referências espaciais (e, também, certamente, sentimentais).
A noção da passagem do tempo, na vida de uma cidade, tem-se, fundamentalmente, pela percepção de suas transformações físico-espaciais.
Ver-se isto, porém, é perceber muito pouco.
A cidade da gente – aquela que guarda os marcos referenciais de nossa vida – interage conosco. É resposta ao que somos e questão a respondermos.
Um abraço, com muito carinho, Pelotas de todos os meus dias!
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