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     O CAFÉ DA CIDADE ONDE EU NÃO MORO
     13/02/2013
      Afif Simões Neto, juiz de Direito

    

Local de encontro para os comentários banais sobre os assuntos que realmente interessam à evolução da espécie humana.

A importância sociocultural de uma cidade é medida pelo seu café. Não me refiro aqui à produção do aromado grão originário da Etiopia, que depende do tipo de terra e do clima favorável, mas sim à cafeteria, ao bar, ao espaço onde não existem limites à exposição das teses científicas de salvação coletiva. Local de encontro para os comentários banais sobre os assuntos que realmente interessam à evolução da espécie humana: futebol, política e o desenrolar detalhado da vida alheia. O resto não dá samba ou cai na vala dos pormenores.

Em Porto Alegre, havia o Café Central, a Confeitaria Rocco, o Chalé da Praça XV e o Café Colombo. Por último, o Rian, de precária tradição no quesito longevidade, e que baixou em definitivo suas cortinas de ferro levado de roldão pelo entristecido declínio da Rua da Praia. Hoje, as melhores cafeterias estão estabelecidas em locais aristocráticos - vide o bairro Moinhos de Vento - e num processo crescente de sofisticação, a ponto de o cafezinho custar mais que um completo no centro.

É difícil imaginar Buenos Aires sem o Café Tortoni. Inaugurado em 1858, circularam entre suas mesas figuras internacionais como Albert Einstein e Frederico Garcia Lorca, isso sem falar em Carlos Gardel, que dava lá suas canjas nas peñas fomentadas no lugar em proteção das artes e das letras.

Pois na região sul do Estado existe um local que faz parte dessa peculiar estirpe universal. É o Café Aquários, considerado a "Academia de Ciências Políticas de Pelotas". Templo imaculado e de profunda sapiência para a cura de todas as enfermidades já catalogadas - e também as que estão por vir -, fica na esquina da 15 com a 7, perto do chafariz da praça principal. Lugar mais democrático ainda não nasceu. Lá, o guardador de carros tira ficha no caixa e ombreia parelho com o graduado de academia no debate dos assuntos em pauta, e ainda pergunta se a família do distinto passa bem. Quem tem dinheiro ou é pelado se iguala quando respira o mesmo aroma que se desgruda das máquinas fumegantes, sentinelas de alumínio à espera do batalhão de assíduos. Onde quem apruma o cotovelo no balcão em forma de ferradura é xavante ou áureo-cerúleo. Depois, bem depois, até pode ser que simpatize por um dos grandes da capital.

Se aquelas cadeiras falassem contariam histórias do arco - e também da flecha -, desde as rasteiras traições políticas até as sentimentais, as mais insidiosas segundo o descuidado filósofo do Fragata, que, apesar do cartaz, insiste em acender o cigarro ainda no interior do recinto.

Pode ser que Pelotas termine o dia com seu corpo histórico estendido em descanso sobre o trapiche da praia do Laranjal, mas sempre aviva os olhos matinais com um expresso no Café Aquários.

(Publicado originalmente no Diário Popular em 16/01/2013)

 

          Segundo o articulista Henrique Massaro, o Café Aquários funciona desde 1942, quando inaugurou como Café Nacional, passando depois a Café 35. A partir de 1970, o nome passou sucessivamente por Café Aquário, Café Aquário's e finalmente Café Aquários (Diário Popular, 24-05-2014, página 2, Bebida do Brasil, tradição de Pelotas).
          Os mais antigos lembram-se que, desde o início, o ponto deste café era conhecido como o "Aquário" por motivo de suas fachadas envidraçadas. Assim, pode-se dizer que tanto o Café Nacional como o Café 35 funcionaram no Aquário. Portanto, a denominação atual reconhece o seu nome popular e tradicional.
Pedro Luís Monti Prietto – Engenheiro Civil
Pelotas / RS

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