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     Padre Felício Joaquim da Costa Pereira, primeiro pároco de Pelotas, nasceu em 4 de agosto de 1777 em Buenos Aires e faleceu em 11 de outubro de 1818 em Pelotas.


Século XIX

      Transcorridas infância e adolescência junto à família nos Cerros de Sant’Ana no Capão do Leão, Hipólito José aos 24 anos formou-se em Leis, Filosofia e Matemática na Universidade de Coimbra, em 1798. Felício Joaquim aos 23 anos concluiu seus estudos no Rio de Janeiro e foi ordenado padre em 20 de setembro de 1800 pelo bispo Dom José Joaquim Justiniano Mascarenhas Castelo Branco. José Saturnino aos 26 anos formou-se em Matemática na Universidade de Coimbra, em 1806.

      Padre Felício depois de ordenado volta ao sul, fica ligado à paróquia do Rio Grande e coadjutor do seu tio Padre Doutor que até 1805 foi Vigário da Vara, isto é, representante do Bispo do Rio de Janeiro e supervisor das atividades da igreja na jurisdição de Rio Grande.
      Padre Doutor, mesmo depois de 1805, quando se retirou para a estância Sant’Ana, usou seu prestígio junto ao bispado do Rio de Janeiro no sentido de serem criadas novas paróquias, pois a paróquia de Rio Grande, desmembrada da paróquia de Laguna/SC, abrangia grande parte do Rio Grande do Sul, desde o Rio Camaquã ao norte até os domínios de Espanha ao sul.

 

 

 

 

      Entre 1810 e1811, Padre Felício foi ao Rio de Janeiro enviado e custeado pelo Padre Doutor para agilizar o atendimento das suas solicitações de criação de novas paróquias. Na época vigorava o tratado de vinculação entre a Igreja Católica e o Reino de Portugal, pelo qual a administração e organização da igreja eram delegadas ao monarca e o reino arcava, em contrapartida ao poder religioso adquirido, com a manutenção do clero. Desta forma, a criação de paróquias dependia da indicação do bispo e autorização do soberano, na época o Príncipe Regente Dom João. Por sua vez, às paróquias eram atribuídas funções típicas do poder político como o registro civil das pessoas, assentamentos de nascimento, batismo, casamento e óbito.
      Padre Felício retorna do Rio de Janeiro com ótimas notícias. Está decidida a criação da paróquia de São Francisco de Paula em Pelotas, a de Nossa Senhora da Conceição em Canguçu, a de Nossa Senhora da Conceição em Piratini e a do Espírito Santo em Jaguarão.
      Em 7 de julho de 1812 o príncipe Dom João assina o alvará da criação da Freguesia de São Francisco de Paula. No regime colonial português, freguesia era a menor divisão política administrativa coincidente com a paróquia, pois não havia uma estrutura civil separada da estrutura eclesiástica. Foi dado o nome de São Francisco de Paula. Consta que, antes, a população de Pelotas já era atendida num Oratório dedicado a São Francisco de Paula, às margens do Canal de São Gonçalo. Nesta região, São Francisco de Paula era homenageado por ser o santo do dia 02 de abril de 1776, em que os espanhóis foram expulsos da Vila do Rio Grande, após ser retomada por ação militar no dia anterior.

 

Alvará: “Eu, o Príncipe regente de Portugal e do Mestrado Cavaleria e Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo: Faço saber aos que este meu Alvará virem que atendendo a grande extensão que abrange a Freguesia de São Pedro do Rio Grande do Sul, deste Bispado; e a que desmembrando-se dela algumas outras Freguesias serão seus habitantes muito melhor socorridos do Pasto espiritual: Hei por bem conformando-me com o parecer do meu Tribunal da Mesa da Consciência e Ordens desta Corte, informação do Reverendo Bispo meu Capelão Mor e respostas dos Procuradores Gerais das Ordens e do da minha Real Coroa e Fazenda, que tudo subiu à Minha Real Presença em consulta do referido meu Tribunal, erigir uma nova Freguesia colada no lugar denominado Pelotas, desmembrando-a da Freguesia mencionada de São Pedro. Pelo que mando a vós Reverendo Bispo meu Capelão Mor do meu Conselho demarqueis a esta nova Freguesia os limites por vós designados nas informações, que se vos cometeram sobre esta mesma divisão. Este se cumprirá como nele se contém, sendo passado pela Chancelaria das Ordens e registrado nos Livros da Câmara deste Bispado e no de ambas as sobreditas Freguesias, e valerá como Carta, posto que seu efeito haja durar mais de um ano, sem embargo das Ordenações em contrário. Rio de Janeiro sete de julho de mil oitocentos e doze.” “Príncipe. Alvará pelo qual Vossa Alteza Real há por bem erigir uma nova Freguesia no lugar denominado Pelotas, desmembrando-a da Freguesia de São Pedro do Rio Grande do Sul deste Bispado, como acima se declara. Para Vossa Alteza Real ver. E eu o Padre Francisco dos Santos Pinto, Escrivão da Câmara, o subscrevi e assinei. Desta, cento e trinta réis.” (Este documento, o Edital e a Provisão do Bispo do Rio de Janeiro dom José Caetano da Silva Coutinho são extraídos do Livro do Tombo de Pelotas e foram os três registrados pelo primeiro vigário, o padre dr. Felício Joaquim da Costa Pereira. Acham-se reproduzidos na revista do Centenário de Pelotas, cit.)
[3] Página 68.

      Na semana seguinte, em 14 de julho de 1812, sai a nomeação do Padre Felício como primeiro pároco de Pelotas, constando na sua apresentação pelo Príncipe Regente o seguinte texto:

“Conheço pessoalmente esse clérigo, que está em boa idade para esse trabalho (35 anos) e me parece de muito boa instrução, capacidade e zelo para o ministério paroquial. Aliás, tem atestados elogiosos do pároco de Rio Grande, Padre Inácio Francisco da Silveira que diz “ser um bom e perfeito eclesiástico”; do Padre Pedro Rodrigues Tourem, cura de Canguçu, que louva sua pregação evangélica, assiduidade na administração dos sacramentos, o exemplo e o interesse. Um leigo, Capitão Inácio Antônio da Silveira, atesta que se porta com exemplar conduta e honestidade e faz tudo com desinteresse, sem cobrar estipêndio algum dos moradores.”
[4] Página 100.

      Em 18 de agosto de 1812, Dom José Caetano da Silva Coutinho, bispo do Rio de Janeiro, regulamenta a paróquia de São Francisco de Paula.
      Em 13 de outubro de 1812, Padre Felício toma posse na paróquia, hospedando-se em terras do capitão-mor Antônio Francisco dos Anjos que mantinha laços de amizade com o Padre Doutor. Este campo, com 52 hectares de área pertencera a charqueada de José Aguiar Peixoto e continha apenas duas edificações, uma de alvenaria coberta de telhas de barro onde morava Antônio José Torres e outra, um rancho coberto com palha santa-fé, que abrigou o Padre Felício. O rancho erguia-se no Sítio dos Coqueiros, lugar próximo da esquina que fazem hoje as ruas Gonçalves Chaves e General Neto. A outra, conhecida como a Casa do Torres, existe até hoje, cadastrada sob número 201 na Rua Major Cícero Góes Monteiro, e é atualmente a construção mais antiga da cidade.
      A primeira providência administrativa de Padre Felício foi conseguir um terreno para construir a igreja matriz. Interinamente servia como sede paroquial o Oratório de Nossa Senhora da Conceição do Cerro de Sant’Ana na casa do Padre Doutor. Cientes de que a igreja matriz seria o núcleo irradiador da urbanização do povoamento, logo surgiram muitos interessados na localização da igreja, aglutinados em três alternativas. As discussões entre eles davam-se na casa do Torres que oferecia melhores condições de conforto para os convidados, em comparação com o rancho ocupado pelo pároco.
      Em fevereiro do ano seguinte, 1813, quando as discussões seguiam sem chegar ao consenso, Padre Felício inicia a construção da matriz em terreno cedido pelo capitão-mor, a cem metros em frente da casa do Torres, hoje Praça José Bonifácio. A edificação projetada e construída pelo padre Felício, com apoio financeiro de Antônio dos Anjos, era simples, em alvenaria de um tijolo de espessura (30cm) com cobertura de duas águas e telhas de barro, constituída de uma nave de 30 palmos (6,60m) por 60 palmos (13,20m), sem torres e sacristia.
      Os fiéis da nova paróquia eram sabedores da existência em Mostardas de uma bela imagem de São Francisco de Paula, talhada em madeira ao estilo barroco, pertencente a Antônio Gomes de Carvalho, o Colônia, apelido adquirido em Mostardas por ser oriundo da Colônia do Sacramento. Pressentindo a invasão espanhola de 1776, Antônio emigrou da Colônia trazendo consigo numa carreta a imagem do santo de sua devoção até a vila do Rio Grande, daí se transferindo para Mostardas. Sempre fora intenção de Antônio construir uma capela para colocar a sua imagem no altar, por duas vezes solicitou e conseguiu a licença do bispo do Rio de Janeiro, a primeira para a Colônia do Sacramento e a segunda para Mostardas.
      Portanto, criada a paróquia de São Francisco de Paula em 1812, os fiéis se organizaram sob a liderança do pároco e confiaram à Dona Florência Maria do Pilar, também oriunda da Colônia do Sacramento, esposa de José Gonçalves da Silveira Calheca, natural do Estreito e dono da Charqueada da Figueira na margem do Canal de São Gonçalo, a tarefa de obter a doação da imagem, pois o seu dono não conseguira construir a sonhada capela em Mostardas.
      Com a concordância de Antônio Colônia e o início da construção da igreja matriz, Padre Felício e José Calheca partem rumo a Mostardas em março de 1813, a bordo do iate Argelino de propriedade do charqueador, para buscarem a imagem. De volta, a imagem foi desembarcada no trapiche da charqueada de Calheca e levada à braço, sem andor, para o Sítio dos Coqueiros, moradia do pároco. Lá ficou até o dia 23 de dezembro, quando foi transferida em festiva procissão para o altar mor da igreja matriz, ainda inacabada, mas capaz de servir ao culto, erguida “sobre imensa chapada, então triste e solitária, mas que se haveria de se cobrir de casario e ser, um dia, um formigueiro humano laborioso e progressista”.
      Em 27 de agosto de 1813 faleceu o Padre Doutor em sua casa no Cerro de Sant’Ana, aos 84 anos. O corpo do patriarca foi sepultado na Matriz de São Pedro do Rio Grande, onde fora pároco por 10 anos e vigário da vara por 22 anos. Antes, a dois anos de sua morte, fez testamento na residência do capitão-mor Antônio dos Anjos na charqueada do Arroio Moreira, onde registrou textualmente: “Não tenho presentemente bens de raiz, dinheiro ou escravos, pois tudo quanto tinha adquirido o tenho consumido em estabelecer os filhos de minha irmã Ana Josefa, casada com Félix da Costa Furtado de Mendonça”. No testamento não consta a propriedade no Cerro de Sant’Ana porque “há muito tempo” tinha sido doada em vida ao Padre Felício, mas ficou nomeado este sobrinho como seu herdeiro universal. Deixou seu nome para o Arroio São Tomé, divisa natural da estância de Sant’Ana, que passou a se chamar Arroio do Padre Doutor, pela vontade popular.
      Em janeiro de 1814 as doações de terrenos feitas por Antônio Francisco dos Anjos e sua mulher Maria Micaela do Nascimento em favor do Padre Felício Joaquim da Costa Pereira foram levadas a termo na casa dos doadores situada na Fazenda do Arroio Moreira, perante duas testemunhas. O primeiro termo de doação, assinado no dia 3, se referia ao terreno retangular para construir a igreja matriz e seu adro, medindo 70 braças (154m) de comprimento nos lados norte e sul por 30 braças (66m) de largura nos lados leste e oeste. O segundo termo de doação, assinado no dia 5, se referia a um terreno quadrado para construir casa de residência do pároco, medindo 8 braças (17,6m) de lado com frente sul para o largo da igreja. Estes dois termos, em 10 de junho de 1817, foram levados à Vila do Rio Grande para o tabelião reconhecer as assinaturas do casal doador e das duas testemunhas e dar fé pública aos documentos.
      Em 11 de outubro de 1818, em Pelotas, de repente, Padre Felício falece prematuramente aos 41 anos. Com enterro solene foi sepultado no recinto da igreja matriz que projetou e construiu.
      Com a morte de Felício Joaquim, a parte da estância do Cerro doada pelo Padre Doutor, passa de herança para seu pai Félix da Costa Furtado de Mendonça, que fica proprietário de toda a estância. Entre 1818 e 1819, Félix, já viúvo de Ana Josefa, vendeu a estância para Antônio Pereira Bueno e foi morar numa chácara herdada de seu filho Padre Felício, na alça da Serra dos Tapes, no sítio denominado Santo Amor. Logo a seguir, em 29 de junho de 1819 faleceu Félix da Costa Furtado de Mendonça. Nesta ocasião, os filhos sobreviventes Hypólito José e José Saturnino estavam radicados, há muito tempo, em Londres e Rio de Janeiro, respectivamente.

O destino do irmão Hipólito José

      Hipólito José depois de sua formatura em Leis, Filosofia e Matemática na Universidade de Coimbra (1798) foi enviado em 16 de outubro deste ano pela Coroa portuguesa aos Estados Unidos e ao México, para conhecer a economia desses dois países. Permaneceu nos Estados Unidos por dois anos, onde, na Filadélfia veio a ingressar na maçonaria, o que influenciou a sua vida daí em diante.
      Retornou a Portugal em 1802 e em seguida foi mandado a Londres para adquirir livros para a Biblioteca Real e maquinário para a Imprensa do reino. Aproveitando sua permanência em Londres, firmou relações com maçons londrinos.
      Recém retornado ao reino, sob a acusação de ativismo maçônico, ficou preso até 1805, quando apoiado pela Maçonaria fugiu do cárcere para a Espanha e de lá para a Grã-Bretanha, onde se exilou sob a proteção do Duque de Sussex, filho de Jorge III do Reino Unido e grão-mestre da maçonaria inglesa. Na Inglaterra, com a ajuda do Duque de Sussex adquiriu ações do Banco da Escócia obtendo de direito a nacionalidade inglesa de forma imediata.
      Em 1º de junho de 1808, publicou o primeiro número do Correio Braziliense ou Armazém Literário, editado e impresso em Londres. O Correio era mensal, encadernado em brochura, e seu editor produzia sozinho as 100 páginas, em média, de cada exemplar. O periódico circulava clandestinamente no Brasil junto a um restrito público leitor, por ser uma publicação cara e de circulação proibida em território português. Foi publicado regularmente até 1822, num total de 175 números.
      Hipólito José em sua publicação defendeu as idéias liberais, entre as quais as de emancipação colonial, dando ampla cobertura aos acontecimentos de 1821 e de 1822 que conduziriam à Independência do Brasil. Hipólito era simpático ao sistema da monarquia parlamentarista no modelo inglês.
      Hipólito José teve uma descendência brasileira e outra, inglesa. Na descendência brasileira, teve um filho com a inglesa Mary Anne Lyons, Félix José da Costa, que foi enviado para o Brasil para ser cuidado pelo tio José Saturnino, quando seu pai foi casar com Mary Anne Troughton. Seu filho Félix José casou no Brasil e gerou a descendência brasileira de Hipólito José. A descendência inglesa tem origem com o seu casamento em 1817 com a inglesa Mary Anne Troughton, união que gerou três filhos: Augusta Carolina, Anne Shirley e Augusto Frederico.
      Faleceu em 1823, em Londres, aos 46 anos. Pouco antes de morrer foi nomeado cônsul do Império do Brasil na capital inglesa. Em 2001 seus restos mortais foram trasladados para Brasília e depositados nos Jardins do Museu da Imprensa Nacional. É patrono da imprensa brasileira e da cadeira 17 da Academia Brasileira de Letras.

O destino do irmão José Saturnino

      José Saturnino depois de sua formatura em Matemática na Universidade de Coimbra (1806) radicou-se no Rio de Janeiro, onde casou com Francisca Eugênia de Magalhães em 7 de maio de 1815. É filho deste casamento Jorge Saturnino Magalhães da Costa Pereira.
      Foi militar e professor da Escola Militar do Rio de Janeiro. Em 1846, recebeu o título de Doutor em Matemática, na primeira diplomação da espécie no Brasil. Possui uma extensa produção intelectual, sendo de se destacar as publicações de 1813 a 1848: Cálculo das Variáveis; Plano para divisão de comarcas, cidades, vilas...; Dicionário Topográfico do Império do Brasil; Recreação moral e científica; Elementos de lógica; Compêndio de geografia elementar; História geral dos animais; Elementos de Geodésia; Mapa do Rio Grande do Sul; Lições elementares de ótica; Geometria analítica; Elementos de cálculo diferencial e cálculo integral; Elementos de mecânica; Elementos de astronomia e geodésia; Apontamentos para a formação de um roteiro das costas do Brasil; e mais de uma dezena de compêndios didáticos para o uso da Escola Militar.
      Em 1821 foi eleito deputado por Mato Grosso às cortes de Lisboa. Em 1824 foi nomeado Presidente da Província do Mato Grosso por Dom Pedro I. Exerceu o mandato de Senador do Império por Mato Grosso de 1827 a 1852. Em 1837 foi Ministro da Guerra na regência de Diogo Antônio Feijó. Era titular da Comenda da Ordem de Cristo, Oficial da Ordem do Cruzeiro e membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
      Faleceu em 9 de setembro de 1852, aos 72 anos, no Rio de Janeiro.

O destino da Colônia do Sacramento

      O Padre Doutor em seu testamento (1811) declarou que no desterro da Colônia do Sacramento havia perdido todos seus “bens de raiz e propriedades de valor” e rogava a seu herdeiro universal, o sobrinho Padre Felício, e seus testamenteiros “procurarem a sua arrecadação se algum dia a dita Praça da Colônia tornar aos domínios de Portugal”. Após sua morte (1813), os fatos mostrariam que sua preocupação com os bens deixados na Colônia tinha racionalidade dentro de sua visão geopolítica.
      Em 1816 o quadro era desfavorável à Espanha, pois a independência da Argentina se consolidava na campanha iniciada em 1810 e o movimento de separação nas demais províncias espanholas se alastrava. O Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, com seu monarca instalado no Rio de Janeiro observando o momento favorável, envia tropas lusobrasileiras que ocupam Maldonado e Montevidéu. Em 1820 o Reino Unido dominava totalmente a banda oriental do Rio da Prata, que no ano seguinte foi anexada ao reino sob a denominação de Província Cisplatina.
      Portanto, dez anos depois do testamento do Padre Doutor, a Colônia do Sacramento tornou aos domínios de Portugal. Porém seus bens lá deixados estavam definitivamente perdidos. Seus sucessores, o sobrinho Padre Felício, seu cunhado Félix e sua irmã Ana Josefa, estavam mortos e os outros dois sobrinhos estavam ausentes. De outra parte, a Colônia do Sacramento estava reconstruída e ocupada pelos criollos da banda oriental, contrariando o vaticínio do seu conquistador, Don Pedro de Cevallos, que em 1777 depois de destruí-la mandou espalhar sal para que a vida não retornasse naquela praça.
      Em 1821 Dom João VI volta para Portugal e transfere o governo do Reino Unido para Lisboa. A partir daí, se avolumam as divergências entre portugueses e brasileiros que levam à declaração de independência em 7 de setembro de 1822 e criação do Império do Brasil. Diante deste quadro de instabilidade política no lado brasileiro, a Argentina inicia um processo de reação à criação da Província Cisplatina, tanto no campo diplomático como militar, que culmina em 1825 com a declaração de nulidade do tratado de anexação e intensificação das ações militares. Em resposta o Brasil declara guerra à Argentina. A disputa só findou em 1828 pelo Tratado do Rio de Janeiro, costurado pela Inglaterra, em que Brasil e Argentina aceitaram a criação de um país independente na região, o Uruguai. A Colônia do Sacramento passa a ser uruguaia, nem argentina, nem brasileira.
      Em 2005, Pelotas e Colônia são declaradas cidades irmãs celebrando os laços históricos estabelecidos pelos seus pioneiros comuns.

O destino da Freguesia de São Francisco de Paula

      O ano de 1812 foi marcado pela criação da freguesia pelo Príncipe Regente Dom João (7 de julho), pela regulamentação da paróquia pelo bispo do Rio de Janeiro Dom José Caetano da Silva Coutinho (18 de agosto) e pela nomeação do primeiro pároco Padre Felício Joaquim da Costa Pereira (14 de julho), que toma posse em 13 de outubro. Em fevereiro do ano seguinte, 1813, começam as obras de construção da igreja matriz, e ao final do ano o templo começa a servir ao culto religioso, embora não concluído. Após a morte de Padre Felício (1818), tendo o templo primitivo sido danificado por um raio, em 1826 foram iniciadas as obras de uma nova edificação, pelo lado de fora da primitiva igreja. A nova construção foi concluída em 1853.
      A freguesia foi elevada à Vila de São Francisco de Paula em 7 de dezembro de 1830, tornando-se independente da Vila de São Pedro do Rio Grande. Em 27 de junho de 1835 a Vila de São Francisco de Paula foi elevada à condição de cidade sob a denominação atual, Cidade de Pelotas.
      Com o estabelecimento do regime republicano (1889), houve a separação entre Igreja e Estado, e as paróquias passaram a fazer parte somente da estrutura eclesiástica. Em 1907, São Francisco de Paula que até então era apenas o santo de invocação que dava o nome à paróquia, foi reconhecido pelo papa Pio X como Padroeiro de Pelotas. A paróquia de São Francisco de Paula foi elevada à Diocese de Pelotas em 1910 e a igreja matriz paroquial passou à Catedral Diocesana de São Francisco de Paula.
      Nas décadas de 1930-40 a catedral passou por reforma e ampliação, construindo-se presbitério, sacristia, salão paroquial e cripta. Em 1948 iniciaram as pinturas murais internas a cargo dos artistas italianos Aldo Locatelli e Emilio Sessa, encomendadas pelo bispo Dom Antônio Zattera. Em 1950 foram instalados na capela-mor o altar, o piso, a balaustrada e os dois púlpitos, todos produzidos em mármore na Itália.
      Após as comemorações em 2010 do seu centenário, a diocese foi elevada à Arquidiocese Metropolitana de Pelotas em 13 de abril de 2011, passando a catedral a chamar-se Catedral Metropolitana de São Francisco de Paula.

Pedro Luís Monti Prietto

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BIBLIOGRAFIA:

Livros

[1]  JACOTTET, Alda Maria de Moraes e BETEMPS, Leandro Ramos. Povoadores de Pelotas-RS: Freguesia de São Francisco de Paula (1812-1825). Pelotas, Ed. Universitária UFPel, 2006. vol.1.

[2]  NASCIMENTO, Heloisa Assumpção. Nossa Cidade era Assim. Pelotas, Livraria Mundial/Universitária UFPEL, 1989. vol.1.

[3]  OSÓRIO, Fernando. A cidade de Pelotas. 3.ed. revista. Organização e notas de Mário Osório Magalhães. Pelotas, Armazém Literário, 1997. vol.1.

[4]  PARMAGNANI, Jacob José. O Padre Doutor: Pedro Pereira Fernandes de Mesquita. 2.ed. Porto Alegre, La Salle, 2002.

Internet

[5]  POSSAMAI, Paulo César. O recrutamento militar na América Portuguesa: o esforço conjunto para a defesa da Colônia do Sacramento (1735-1737). Disponível em: http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S0034-83092004000200006&script=sci_arttext. Acesso em: 10 ago. 2011.

[6]  PRADO, Fabrício Pereira. Colônia do Sacramento: a situação na fronteira platina no século XVIII. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ha/v9n19/v9n19a03.pdf. Acesso em: 14 jul. 2011.

[7]  SILVA, Arthur Victória. Estância Sant’Anna – Resumo histórico – séculos XVIII e XIX. Disponível em: http://capaodoleao.blogspot.com/2008_07_27_archive.html . Acesso em: 18 mai. 2011.

[8]  SILVA, Arthur Victória. Genealogia do Padre Doutor. Disponível em: http://capaodoleao.blogspot.com/2006_03_07_archive.html . Acesso em: 8 ago. 2011.

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