O FUNDADOR DE PELOTAS
     JOSÉ PINTO MARTINS era português nascido na freguesia de Meixomil, concelho de Paços de Ferreira, distrito do Porto, na região Entre Douro e Minho. Filho de João Pinto Martins e de Catharina Pinto Martins, como se lê no seu testamento (*). Faleceu solteiro em Pelotas, 18 de junho de 1827, com perto de oitenta anos, e o seu corpo foi sepultado na Capela da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, na vila de Rio Grande. Deixou seus bens para parentes, um irmão pelo menos morava em sua companhia.
     Tinha vivido no Ceará, onde exercia a profissão de fabricante de carne-seca, até 1777, quando motivado por uma grande seca mudou-se para a vila do Rio Grande. A estas plagas aportara em busca de melhor fortuna. E chegou a propósito. As rezes que vinham sendo abatidas para o consumo próprio eram as que tinham carne e gordura utilizadas na alimentação humana; outras eram sacrificadas simplesmente para o aproveitamento único dos couros, que eram estaqueados nos campos e secos ao sol para serem explorados. Do gado, tudo o mais se perdia. A produção de carne-seca do Ceará, até então o único fornecedor, não bastava para naquela época suprir as necessidades de um sempre crescente consumo, segundo as exigências da introdução de escravos, em ondas avultadas, nas fazendas das capitanias do norte e do centro do país.

     A PRIMEIRA CHARQUEADA DE PELOTAS
     Em 1780 fundou uma pequena charqueada em parte dos terrenos de Manoel Carvalho de Souza, concedidos no ano anterior pelo governador da Capitania do Rio Grande, José Marcelino de Figueiredo, na margem direita do Arroio Pelotas e à cerca de uma légua da sua foz, numa área onde ainda não havia um único núcleo urbano. Os seus negócios aumentaram de forma a exigir maior instalação e capital, constituindo por isto a firma José Pinto Martins & Cia. A casa de moradia junto ao arroio era construída de tijolo e coberta de telhas, bem como o armazém para guarda do charque, a casa-graxeira, a atafona com forno para secar sal e senzala. Entre outras benfeitorias, existia no campo a mangueira de receber tropa, varais para 600 reses, pomar etc. Seus escravos foram classificados em carneadores (10), campeiros (4), salgadores (2), sebeiros (2), graxeiros (2), além dos destinados a ofícios especiais como alfaiate, sapateiro, tafoneiro, hortelões etc. Ao todo somavam trinta e quatro.Até 1824 subsistia ele ativo, pois neste ano ainda, foi juiz provedor da Irmandade do Santíssimo Sacramento.
     Teve a intuição da importância do lugar para a futura localização do mais importante centro saladeril do Rio Grande do Sul. Em pouco tempo, muitos outros estabelecimentos semelhantes vieram a se instalar na mesma área, ao longo do arroio Pelotas, do canal São Gonçalo e do arroio Santa Bárbara, no rincão formado por esses cursos de água. Cabe-lhe a primazia na fundação da cidade de Pelotas.
     José Pinto Martins não foi na verdade o pioneiro da indústria riograndense de charque, mas teve o mérito indiscutível de ter descoberto o local ideal para a localização dessa industria, isto quando Pelotas não passava de um rincão remoto na vila do Rio Grande. A concentração da indústria saladeril em Pelotas, depois da charqueada de Pinto Martins, consolidou e deu impulso a uma atividade que já existia, mas era incipiente, e a transformou na mais importante do Rio Grande do Sul. Por pouco mais de um século, o charque foi o produto básico da economia rio-grandense. Acompanharam-no os couros, as gorduras e demais produtos da industria saladeril. A pecuária valorizou-se e passou a ser a principal exploração da terra e a atividade mais importante da população, e o gado gordo passou a ser transportado de distâncias cada vez maiores, da campanha, da fronteira oeste, das missões e da região do planalto.
     (*) Documento citado: Inventário de José Pinto Martins – nº 114, M-10. 1-25, 1827, 1º Cart. Órfãos – Pelotas (Arquivo Público do Estado).

Márcio Duarte Moro
Pedro Henrique Bellomo
Fontes:

MARQUES, Alvarino da Fontoura. Evolução das Charqueadas Rio-Grandenses. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1990.
OSÓRIO, Fernando. A cidade de Pelotas. 3.ed.rev. Pelotas: Armazém Literário, 1997.
XAVIER, Paulo.Um cearense iniciador de nossas charqueadas? Diário Popular. Pelotas, 21 jan 1973.


OS GRANDES PIONEIROS
     Em 1780, três (?) anos após a reconquista da vila de Rio Grande pelos portugueses, José Pinto Martins fundou a primeira charqueada no rincão das pelotas, numa área onde ainda não havia um único núcleo urbano. Teve o mérito indiscutível de ter descoberto o local ideal para a localização dessa industria, isto quando Pelotas não passava de um rincão remoto na vila do Rio Grande. Em pouco tempo, muitos outros estabelecimentos semelhantes vieram a se instalar na mesma área, ao longo do arroio Pelotas, do canal São Gonçalo e do arroio Santa Bárbara, no rincão formado por esses cursos de água. Cabe-lhe a primazia na fundação da cidade de Pelotas.
     Nossa cidade foi fundada sob a égide do empreendedorismo privado. Em 1780, com Pinto Martins, o pioneiro da nossa indústria e comércio, fundando a base econômica da comunidade, em terrenos particulares adquiridos de Manoel Carvalho de Souza, e a partir de 1812, com Antônio dos Anjos, o pioneiro do mercado imobiliário de Pelotas, estabelecendo em terrenos de sua propriedade privada a estrutura fundiária urbana da nascente Freguesia de São Francisco de Paula. Ainda no século XIX, outro notável homem de empresa, o Coronel Pedro Osório, adquire em 1886 sua primeira indústria, no Cascalho, também à margem direita do Arroio Pelotas, inicialmente como charqueador, para a partir de 1907 abrir e liderar um novo ciclo econômico com o plantio e beneficiamento do arroz. Em 1912 funda o Engenho São Gonçalo, o maior da América do Sul.
     Causa espécie quando, hoje, alguns ao discutirem as vocações econômicas tradicionais de Pelotas excluem a atividade industrial. Será desconhecimento da história ou defesa de outros interesses setoriais?

QUEM FOI PINTO MARTINS?
     Nas primeiras edições de “A Cidade de Pelotas” de Fernando Osório, José Pinto Martins era dado como natural do Ceará. No volume 1 da 3ª edição revisada, com organização e notas de Mário Osório Magalhães, editado pelo Armazém Literário em 1997, há a seguinte nota: “Até 1962, supunha-se que José Pinto Martins era cearense; a descoberta do seu inventário, nesse ano, pelo historiador Paulo Xavier, esclareceu a questão de modo definitivo: nasceu na cidade do Porto, cedo se transferindo para o Ceará.”

     Em 1780, quatro anos após a reconquista da vila de Rio Grande pelos portugueses, José Pinto Martins fundou a primeira charqueada no rincão das pelotas, numa área onde ainda não havia um único núcleo urbano. Em pouco tempo, muitos outros estabelecimentos semelhantes vieram a se instalar na mesma área, ao longo do arroio Pelotas, do canal São Gonçalo e do arroio Santa Bárbara. Cabe-lhe a primazia na fundação da cidade de Pelotas.
     Nas primeiras edições de “A Cidade de Pelotas” de Fernando Osório, José Pinto Martins era dado como natural do Ceará. Na sua 3ª edição, revisada por Mário Osório Magalhães, está anotado que até 1962, supunha-se que José Pinto Martins era cearense; a descoberta do seu inventário, nesse ano, pelo historiador Paulo Xavier, esclareceu a questão de modo definitivo: nasceu em Portugal e cedo se transferiu para o Ceará.
     O historiador Paulo Xavier em artigo publicado no DIÁRIO POPULAR, de 21/01/1973, esclarece que Pinto Martins era “português do Porto batizado na freguesia de Meixomil, filho de JOÃO Pinto Martins e de CATARINA Pinto Martins, como se lê no seu testamento. Faleceu solteiro, em Pelotas, 18 de junho de 1827 e o seu corpo foi sepultado na Capela da Ordem Terceira de N. Sra. do Carmo, na Vila de Rio Grande”.
     Portanto, José Pinto Martins, português nascido na freguesia de Meixomil, não era natural da cidade do Porto como eventualmente é citado. Meixomil é uma freguesia localizada no concelho de Paços de Ferreira, por sua vez pertencente ao distrito do Porto, na região Entre Douro e Minho. A imprecisão geográfica advém da confusão entre a cidade do Porto e o distrito do Porto.
     Recentemente, graças a consultas realizadas pela ONG VIVA O CHARQUE junto aos arquivos portugueses, por indicação do Instituto dos Arquivos Nacionais – Torre do Tombo, de Lisboa, foi localizado no Arquivo Distrital do Porto “um assento de batismo na freguesia de Meixomil de um JOSÉ, filho de JOÃO Pereira PINTO e de CATARINA Pereira do lugar das Bouças da freguesia de Meixomil, nascido aos 7 dias de dezembro de 1755, neto materno de Antônio MARTINS e de Maria Ferreira”.
     Portanto, descoberta a data de seu nascimento, ao morrer tinha a idade de 71 anos e não “aproximadamente 80 anos” como conta a tradição. Com estas buscas, além do seu natalício, descobriu-se com maior precisão que nasceu na freguesia de Meixomil no lugar das Bouças. É provável a sua origem modesta e sem fortuna. Mas, certamente ambicioso, movido por espírito de aventura e grande capacidade de iniciativa, muito jovem ainda, partiu das Bouças para iniciar o primeiro ciclo econômico do Continente de São Pedro.
     Como se vê, Pinto Martins fundou sua charqueada na Costa do Arroio Pelotas aos 25 anos de idade. Antes, tinha vivido no Ceará, no Aracati, onde exercia a profissão no ramo de carne-seca, até a ocorrência da grande seca de 1777/78, que motivou a sua mudança para a vila do Rio Grande em busca de melhor sorte. Das referências marcantes de suas vida restam saber o ano de sua vinda para o Brasil e detalhes da sua permanência no Ceará.

Pedro Luís Prietto
Fonte:
Diário Popular – 18 de junho de 2005, página 6.

 

 

     O historiador Paulo Xavier em artigo publicado no DIÁRIO POPULAR, edição de 21 de janeiro de 1973, com o título UM CEARENSE INICIADOR DE NOSSAS CHARQUEADAS?, esclarece que Pinto Martins era “português do Porto batizado na freguesia de Meixomil, filho de João Pinto Martins e de Catharina Pinto Martins, como se lê no seu testamento. Faleceu solteiro, em Pelotas, 18 de junho de 1827 e o seu corpo foi sepultado na Capela da Ordem Terceira de N. Sra. do Carmo, na Vila de Rio Grande. Deixou seus bens para parentes (um irmão pelo menos morava em sua companhia)”.
      “Sua charqueada situava-se – e muito bem instalada – à margem direita do arroio Pelotas em terras de sua propriedade. A casa de moradia, junto ao arroio, era construída de tijolo, e coberta de telhas, bem como o ARMAZÉM para guarda do charque, a CASA GRAXEIRA, a ATAFONA com forno “para secar sal” e SENZALA.”
     “Entre outras benfeitorias existia no campo a MANGUEIRA “de receber tropa”, VARAIS “para 600 reses”, POMAR etc. Seus escravos foram classificados em carneadores (10), campeiros (4), salgadores (2), sebeiros (2), graxeiros (2), além dos destinados a ofícios especiais como alfaiate, sapateiro, tafoneiro e hostelões (sic)... Ao todo somavam trinta e quatro.”
     Portanto, José Pinto Martins era português nascido na freguesia de Meixomil, concelho de Paços de Ferreira, distrito do Porto, na região Entre Douro e Minho.
     Em Fernando Osório se lê: “Em 1780 estabeleceu uma charqueada sobre a margem direita e a cerca de uma légua da foz do rio das Pelotas; os seus negócios aumentaram de forma a exigir maior instalação e capital: constitui por isso a firma de José Pinto Martins & Cia. A charqueada, promovendo já trânsito, já fixação de gente pelos arredores, foi também exemplo e animação para outros homens empreendedores, que lançaram-se à exploração da mesma indústria. ... Ele que, no Ceará, aprendera o preparo da carne do sertão, sendo um dos retirantes da calamitosa seca de 1777, a estas plagas aportara em busca de melhor fortuna. E chegou a propósito. As reses que vinham sendo abatidas para consumo próprio eram as que, até então, tinham carne e gordura utilizadas na alimentação humana; outras eram sacrificadas simplesmente para o aproveitamento único dos couros que, por possuírem valor venal, eram esfaqueados nos campos e secos ao sol para serem exportados. Do gado tudo o mais se perdia. A procura do charque, desde que ele se apresentasse nos mercados consumidores, tinha de ser grande, não bastando toda a produção possível naquela época para suprir as necessidades de um sempre crescente consumo, em concorrência ao bacalhau segundo as exigências da introdução de escravos, em ondas avultadas, nas capitanias do norte e do centro do país. Insuficiente para satisfazer a procura tornara-se a produção da carne seca do Ceará, que fora até então fornecedor único. Aproveitando as circunstâncias que o rodeavam, na terra que o agasalhava, José Pinto Martins montou uma indústria que foi além das suas previsões, frutificando o seu exemplo, promovida a valorização dos gados, que passaram a ter a sua cotação definitiva. Até 1824 subsistia ele, ativo, pois nesse ainda foi juiz-provedor da Irmandade do Santíssimo Sacramento. Faleceu em 1827 com perto de oitenta anos. Gratidão e honra à sua memória!”
     Recentemente, graças a consultas realizadas pela ONG Viva o Charque junto aos arquivos nacionais de Portugal, foi localizado no Arquivo Distrital do Porto “um assento de batismo na freguesia de Meixomil de um José, filho de João Pereira Pinto e de Catarina Pereira do lugar das Bouças da freguesia de Meixomil, nascido aos 7 dias de dezembro de 1755, neto materno de Antônio Martins e de Maria Ferreira.”
     Portanto, ao morrer teria a idade de 71 anos e não “aproximadamente 80 anos” como conta a tradição.
     José Pinto Martins não foi na verdade o pioneiro da indústria riograndense de charque, Mas, a concentração da indústria saladeril em Pelotas, depois da charqueada de Pinto Martins, consolidou e deu impulso a uma atividade que já existia, mas era incipiente, e a transformou na mais importante do Rio Grande do Sul. Por pouco mais de um século, o charque foi o produto básico da economia rio-grandense. Acompanharam-no os couros, as gorduras e demais produtos da industria saladeril. A pecuária valorizou-se e passou a ser a principal exploração da terra e a atividade mais importante da população, e o gado gordo passou a ser transportado de distâncias cada vez maiores, da campanha, da fronteira oeste, das missões e da região do planalto.

Pedro Luís Prietto
Bibliografia
:
MARQUES, Alvarino da Fontoura. Evolução das Charqueadas Rio-Grandenses. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1990.
OSÓRIO, Fernando. A cidade de Pelotas. 3.ed.rev. Pelotas: Armazém Literário, 1997.
XAVIER, Paulo.Um cearense iniciador de nossas charqueadas? Diário Popular. Pelotas, 21 jan 1973.
Fonte:
ADP- Arquivo Distrital do Porto. Rua das Taipas, 90 – 4050-598, Porto/Portugal.


MÁRIO OSÓRIO MAGALHÃES:
     Augusto Porto Alegre, Simões Lopes Neto, Fernando Osório e Alberto Cunha estavam certos: José Pinto Martins foi o introdutor da indústria saladeiril no Rio Grande do Sul e o primeiro charqueador de Pelotas. Equivocaram-se, no entanto, ao concluir, por indícios e sem o apoio das fontes, que ele teria nascido no Ceará.
     Eram fortes, e pareciam seguros, os indícios: proveniente de Aracati, retirante da seca de 1777 (que aniquilara, no espaço de dois anos, o rebanho nordestino), nada mais lógico do que atribuir-lhe a mesma naturalidade de Iracema, a virgem dos lábios de mel, e localizar-lhe o berço natal nas proximidades daqueles verdes mares bravios, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba.
     Mais de cinqüenta anos mais tarde foi que o historiador Paulo Xavier acabou por desvendar o enigma. Descobrindo o seu testamento, veio provar, definitivamente, através de um artigo publicado no Correio do Povo: era português o primeiro charqueador de Pelotas; nascera em Meixomil, bispado do Porto, filho de João Pinto Martins e de Catarina Pinto Martins, falecendo solteiro em Pelotas no dia 18 de junho de 1827 e sendo sepultado na capela da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, na Vila de Rio Grande.
     Por fim, há menos de quatro meses e há exatos 178 anos desse sepultamento, Pedro Luís Prietto, integrante da ONG Viva o Charque, anunciou, aqui pelo Diário Popular, que havia localizado a certidão de batismo de José Pinto Martins, no Arquivo Distrital do Porto. Por ela ficamos sabendo em que dia ele nasceu: 7 de dezembro de 1755. Isto nos dá a certeza de que esse charqueador (que morreu solteiro, mas deixou três filhos, de duas escravas forras) estabeleceu-se em Pelotas, iniciando a verdadeira "revolução econômica" que representou, para o Rio Grande do Sul, a indústria saladeiril, aos 24 anos de idade.
     Também nos traz outras informações, embora não declaradas no texto: em 7 de dezembro de 2005 o calendário irá assinalar duas datas comemorativas. Uma, os 175 anos do decreto que elevou Pelotas à condição de município. Outra, nada mais nada menos do que os 250 anos de José Pinto Martins.

* * *

     Tenho diante dos olhos a reprodução parcial de quatro livros, relativamente recentes, que contam a história do Ceará. Seus autores: Raimundo Girão, Valdelice Carneiro Girão, Airton de Farias e Geraldo da Silva Nobre.
     Por meio deles fiquei sabendo que no antigo arraial de São José do Porto dos Barcos, hoje Aracati, dava-se o nome de "oficinas" às propriedades que preparavam a chamada carne de sol ou do sertão. Também fiquei sabendo que o ciclo das oficinas, que teve início por volta de 1740, não se encerrou, definitivamente, com a seca de 1777.
     A produção saladeiril foi retomada quase em seguida a essa grande estiagem, sugestivamente chamada de "seca dos três setes". Adveio, porém, nova calamidade, não muito tempo depois: em 1790. Essa, maior do que a anterior, teve a duração de cinco anos e extinguiu, agora sim, a atividade charqueadora, passando-se a incrementar em Aracati, a partir desse momento, a cultura do algodão.
     Soube mais, atento a todos os detalhes: que nessa segunda fase os dois maiores donos de oficinas foram o capitão-mor João Pinto Martins (não só charqueador como fazendeiro, possuindo 40 braças em quadra "ao pé da Rua Santo Antônio") e seu irmão, o sargento-mor Bernardo Pinto Martins...
     Geraldo da Silva Nobre, em As oficinas de carnes do Ceará (1977) revelou: a João Pinto Martins foi outorgado, em 1765, o título de capitão de uma Companhia de Ordenanças dos Homens Forasteiros da Vila do Aracati. Considerando que José, nessa ocasião, tinha apenas dez anos de idade, chego à conclusão: o mais provável é que João e Bernardo fossem, respectivamente, seu pai e tio, e não seus irmãos, conforme sugeriu o autor. Mas, ainda que houvesse uma diferença, entre eles, de no mínimo 20 ou 30 anos (não se daria a patente de capitão a alguém com menos de 30 anos), João e José poderiam, em princípio, ser de fato irmãos.
     Justamente isto é que torna fascinante a História: responde-se a uma pergunta e logo chega outra, para ocupar seu espaço. Depois da interjeição, haverá sempre uma interrogação, no ar.

Fonte: Diário Popular – 16 de outubro de 2005
 

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